Não sou o cara que escreve ebooks. Na real, quero que aqueles tios que vendem cursos na internet tomem nos seus devidos ânus. A razão é simples: minha relação com a tecnologia é meio problemática, e eu quase nunca consigo colocar aquela cara sorridente com clareamento dental para falar pra você que tudo vai dar certo e bla bla bla. Eu sofro de dor crônica, então vivo puto ou cansado quando não estou dopado de medicação (no momento, estou na segunda opção). Eu pareço um zumbi no Instagram.
Eu fiquei uma parte muito grande da minha infância trancado em casa. Meus pais eram religiosos... daquele nível que causa problemas, e tive uma criação complicada com a tec por isso. Pra tu ter uma ideia do que eu tô falando, não tive acesso a TV aberta até os meus 10~11 anos, e teoricamente a primeira coisa que eu invadi foi a TV, onde meu pai dessintonizava todos os canais exceto a TV Cultura.
Toda essa parada de tecnologia tem um cunho quase que religioso pra mim. Da mesma forma que a religião tradicional virou quase meu inimigo, a tecnologia virou uma espécie de fé. Tenho um endereço de IP tatuado nas costas, um chip implantado na mão. Por muito pouco não fiz uma tatuagem de um byte zero (0x00) e um byte um (0x01) no rosto. Tenho 30 anos, não fiz faculdade de computação - saí no primeiro semestre - e trabalho com isso há mais ou menos 12 anos (12 desde meu primeiro feito para uma empresa, sendo pago).
A única coisa que me dá esperanças é saber que existe uma série de pessoas que passa por algo similar, em maior ou menor escala, ao que eu passei. A tecnologia deu uma nova chance.
Estou deixando isso claro porque talvez o que eu tenha para dizer não seja para todo mundo. Se você quer entrar para a tecnologia simplesmente porque fica fascinado em ver um feio que nem eu ganhando um salário igual ao do presidente da república, beleza, eu entendo e respeito, mas entenda que quem vê isso de outra forma não serve de parâmetro para você.
Parece que existe um livro que fala sobre isso, mas na real, eu aprendi isso na prática. Existem três grandes tipos de personalidade: o hacker, o hustler e o hipster. O hacker é o cara da lógica, o hustler é o cara do social e do dinheiro, e o hipster é o cara da criatividade. A questão é que isso não é inerente à personalidade, como me ensinaram. Você tem que ter os três para ser um bom profissional, e existe um gasto de energia bem alto na hora de trocar de um para o outro.
Estou falando sobre esses três porque aqui eu vou apresentar somente o caminho do hacker. Se você quiser virar um empresário de TI, o caminho do hustler vai te trazer muito mais resultado. Se você quiser lançar uma obra de arte usando tecnologia, o do hipster vai fazer mais sentido pra você.
O hacker busca poder, o hustler busca dinheiro e o hipster busca ego. Pensa aí qual tu tem mais forte. O clichê é falar que é um “hustler - hipster”. Eu apostei forte em bombar o hacker.
É importante ter os três. Cansei de ver excelentes hackers que tinham o hustler fraco e tomavam calotes de clientes ou cobravam barato demais pela competência que tinham. Muita gente despreza o hipster, mas o trabalho que eu tô fazendo de mídia social é coisa de hipster puro.
Minha proposta vai de encontro ao que a galera vai tradicionalmente fazer. Eu já testei fazer isso uma dezena de vezes, e o resultado foi muito melhor do que a maneira tradicional:
- Tenha uma empresa para emitir nota fiscal (CLT vai desaparecer nesse ramo).
- Escolha uma classe dentro da tecnologia. Essa parte é a mais difícil.
- Arrume um mentor. Tu precisa dele pra te ajudar no comecar. Eu tive alguns mentores (meu tio Eduardo Freitas, meu professor de informática CMDPII, Jerônimo, meus amigos Guilherme Zakczewiski, Octávio Lessa, Cristiano Fonseca e Leonardo Lourenço - nota mental, depois preciso dar o crédito a essas pessoas).
- Aprenda o super básico sobre e lance um projeto pessoal. Máximo de valor, mínimo de esforço.
- Arrume um trabalho como trainee. Pouca grana no começo, mas a experiência conta muito mais que qualquer coisa no primeiro ano de carreira.
- Aprenda enquanto trabalha.
Quem tem uma relação problemática com a TI que nem eu levou muito tempo para selecionar uma classe, provavelmente teve a oportunidade de testar várias delas. Era uma "brincadeira", até que ficou sério e começou a dar dinheiro.
Eu vou dar alguns exemplos de classes. Existem mais. A vida não é um livro de D&D.
- Low-level / Old School: Software de “base”. O mundo só existe por causa deles.
- High-level Web developer: Aplicativos, sistemas web. Meu favorito.
- Mobile nativo: Aplicativos para celular.
- BI/Analista de dados: Relatórios complexos.
- Inteligencia Artificial: ChatGPT, Midjourney.
- Segurança da informação: Invade coisas
- Suporte e manutenção: Arruma quando o PC dá pau.
- DBA: Só trabalha com banco de dados.
- Web3: Bitcoin, NFT.
- Game Developer: Faz jogo.
- Wordpress-boy: Faz sites que tem foco em conteúdo, e-commerce.
- Hardware/Eletrônica: Mexe com chips, placas.
- Redes, infra: Faz a wifi funcionar.
- Solution-Specific (SAP): Aprende um programa muito bem.
Obrigatório pra todo mundo:
- Inglês. Mais do que obrigatório.
- Básico de Sistemas Operacionais: Linux
- Básico de redes.
- Básico de hardware.
Caminhos que eu recomendo:
- Modern Dev: JavaScript + NodeJS + React + React Native + ExpressJS + Postgres + NextJS + MUI
- Data: Python + Flask ou Django + Postgres
- Marketing: PHP + Wordpress + Elementor + Wordpress Themes / Plugins.
- Security: Linux & Redes + C++ ou Rust + JS
Eu recomendo **Modern Dev **pra todo mundo porque é algo extremamente demandado (cerca de 60% da demanda total!), escala bem, tem muitos atalhos (dá pra você começar por áreas distintas) e o JS - na minha humilde opinião - é a linguagem mais flexível que existe (eu posso explicar o porquê depois, mas é uma explicação complexa que envolve o lance da VM que o JS cria e da quantidade de componentes e documentação existentes).
Além disso, paga-se ridiculamente bem para quem tem bastante experiência.
Existe uma hierarquia no desenvolvimento. Quanto mais tempo de prática, mais você sobe no ranking. É quase que um processo natural.
- Trainee: Está testando a profissão. Você provavelmente está aqui se não faz faculdade de tecnologia ou está aprendendo algo muito novo.
- Júnior: Não abstrai o problema, mas segue a galera. Se você faz faculdade de tecnologia ou um curso. Até uns ~2 anos de experiência.
- Pleno: Abstrai o problema, mas não abstrai a solução completamente. Até ~5 anos de experiência.
- Sênior: Abstrai a solução. Mais de ~5 anos de experiência.
- Master: Abstrai somente um contexto para a solução. Mais de 10 anos, mas tem que ser em um contexto só.
Vai ter gente falando “Ain Davi, 5 anos pra sênior é muito pouco”. Então, não mais. As coisas estão mudando fundamentalmente muito rápido e as curvas de aprendizado estão reduzindo. Já dei surra em desenvolvedores que tinham bem mais tempo que eu, assim como já apanhei para quem tinha bem menos tempo que eu. Para a área de segurança é a mesma coisa. Em todo caso, fundamentação é bom, mas não adianta perder a cabeça com isso.
Existem outros níveis que não estão diretamente relacionados.
- Tech-lead - ou líder técnico, geralmente é o cara que está a mais tempo no projeto e tem experiência com a plataforma. Essa posição é complexa, pois exige um pouco mais do hustler e ao mesmo tempo muito do hacker.
- Manager, vulgo administrador,o cara que organiza a parada toda. Alguns métodos de gestão tem outras figuras ou dão outros nomes. Esse cara geralmente não sabe codar nada e vê tudo como negócio (hustler).
- Tu não precisa de faculdade ou de curso. Dá pra aprender lendo tudo na internet e o YouTube tem material de graça até não caber mais. Faça um curso somente se você precisar de algo mais estruturado.
- Quando começar a aprender, seu impostor (da síndrome do impostor) vai começar a te bater com força - mais do que as outras profissões inclusive. Você precisa entender que isso é normal. Tá tudo bem, nós não passamos de chimpanzés com um plano. Abrace a ignorância, abrace o erro.
- Eu recentemente comprei um Peugeot. Tava com medo porque falam que Peugeot dá muito problema. Minha solução para o medo foi entrar no grupo dos donos de Peugeot da minha cidade para pedir indicações e trocar experiências. Faça o mesmo com esse rolê. Participe de convenções, conheça pessoas, mesmo que você não entenda nada.
- Tu não precisa acreditar em nada do que eu falo. Encontre alguns grupos de vagas de TI, no Brasil e fora dele. Use eles como base sobre o que vai aprender.
- Terminal
- VSCode
- Docker
- Browser (mas usando o devtools)
- Postman/Thunder Client.